quarta-feira, 19 de agosto de 2009

EMPREITEIRA PAGA POR IMÓVEIS DOS SARNEY

Publicada no Blogs do Marinho/Noblat/Agência Estado/Estadão/O Globo

Dois dos três apartamentos que a família Sarney usa como endereço em São Paulo, no edifício Solar de Vila América, na Alameda Franca, nos Jardins, Zona Sul da capital paulista, estão registrados em nome da empreiteira Aracati Construções, Assessoria e Consultoria Ltda. Os sócios da empresa, Rogério Frota de Araújo e a irmã Maria Rosane Frota Cabral, são amigos dos filhos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

De Rodrigo Rangel, de O Estado de S. Paulo.

“NETO DE SARNEY LIGOU, DEPOIS EMPRESA CUIDOU DO NEGÓCIO”

O economista Felipe Jacques Gauer disse ao Estado que foi José Adriano Cordeiro Sarney, neto do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quem o procurou pela primeira vez para tratar da compra do apartamento número 22 do edifício Solar de Vila América, na Alameda Franca.

Em seguida, o próprio José Adriano disse que uma representante da [empreiteira] Aracati iria procurá-lo para fechar o negócio.Como se deu a venda do apartamento?Não foi o senador Sarney, pessoa física, quem comprou. Foi uma construtora, a Aracati. Uma vez, um neto de Sarney que trabalhava no HSBC, o José Adriano, me ligou e depois quem cuidou do negócio foi essa empresa. Ele me fez algumas perguntas e disse que uma pessoa dessa empresa, a Aracati, iria me procurar para acertar a compra.Foi o que aconteceu?Esse neto do Sarney soube que eu colocaria o apartamento à venda e me ligou. Falei que estava mesmo interessado em vender. A gente negociou um pouco o preço e ele falou que essa senhora, da Aracati, me ligaria. De fato ela ligou, e fechamos o negócio.Além desse primeiro contato, a família não entrou formalmente no negócio?Eu sei que eles fizeram questão de deixar de fora o nome da família. Foi essa senhora Rosane, da Aracati, que cuidou de tudo depois. Ela e eu viajamos para São Paulo e resolvemos tudo no aeroporto. Percebi que, por alguma razão, não queriam que o sobrenome Sarney aparecesse na história.O senhor sabia que estava vendendo seu imóvel para a família Sarney?Sim.

Além desse primeiro contato feito pelo neto, tinham me falado que era a família Sarney que estava comprando, apesar de o nome deles não ter aparecido nos documentos. Eles já tinham outro apartamento no prédio. É lógico que eu fiquei sensibilizado com essa situação, mas no que tange à venda correu tudo bem. O que diziam sobre essa empresa, a Aracati?Direta ou indiretamente, estava evidente que essa empresa tinha alguma relação com a família Sarney. Para mim, ficou claro que estavam comprando o apartamento em nome da empresa para não chamar atenção.

EMPREITEIRA PAGOU APARTAMENTOS USADOS PELA FAMÍLIA SARNEY EM SP

Aracati Construções é do empresário Rogério Frota de Araújo, amigo dos filhos do presidente do SenadoRodrigo Rangel, BRASÍLIAHá três décadas, a família Sarney tem como endereço em São Paulo o edifício Solar de Vila América, situado na Alameda Franca, nos Jardins. Até 2006, era um apartamento apenas. Hoje, além do apartamento número 82, comprado em 1979, a família tem a sua disposição outras duas unidades. Os apartamentos 22 e 32 foram comprados há três anos. São usados pelos Sarney, mas estão registrados em nome de uma empreiteira, que cuidou da negociação e pagou os imóveis.

A empreiteira é a Aracati Construções, Assessoria e Consultoria Ltda., cujo dono é o empresário Rogério Frota de Araújo, amigo dos filhos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). De acordo com os registros da empresa na Receita Federal, a Aracati - cuja razão social foi formalmente alterada para Holdenn Construções, Assessoria e Consultoria - tem hoje como principal nicho de negócio o setor elétrico, área do governo federal em que Sarney exerce influência. Há dois anos, a empresa começou a atuar em projetos de construção de usinas termoelétricas.

Num dos apartamentos, o 22, mora um neto do presidente do Senado, Gabriel José Cordeiro Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA). O outro apartamento, o 32, costuma abrigar assessores e convidados dos Sarney, mas também hospeda a família. Em junho passado, por exemplo, foi utilizado pelo próprio senador , em viagem a São Paulo para acompanhar a recuperação da filha, Roseana, operada para correção um aneurisma cerebral.

NO AEROPORTO

Por um mês, o Estado mapeou a história da aquisição dos dois apartamentos. Em Porto Alegre, a reportagem localizou o economista Felipe Jacques Gauer, de 46 anos. Ele conta que, assim que decidiu vender o apartamento 22, após mudar de São Paulo para a capital gaúcha, foi contatado por um neto de Sarney. Segundo Gauer, foi José Adriano, filho mais velho do deputado Zequinha, quem o procurou, por telefone. Estava interessado em comprar o imóvel.

"Ele (José Adriano) me fez algumas perguntas e disse que uma pessoa dessa empresa, a Aracati, iria me procurar para acertar a compra do apartamento", disse Gauer ao Estado. Tudo aconteceu conforme o neto de Sarney combinou. Dias depois, Gauer foi procurado por Maria Rosane Frota Cabral, irmã e sócia de Rogério Frota na Aracati. "Percebi que, por alguma razão, não queriam que o sobrenome Sarney aparecesse na história", diz o economista.

Maria Rosane acertou de encontrar Felipe Gauer pessoalmente para fechar a compra. Em 20 de fevereiro de 2006, os dois viajaram para São Paulo. Ela saiu de Brasília, onde mora, e ele, de Porto Alegre. A pedido de Rosane, se encontraram no Aeroporto de Congonhas. O negócio foi sacramentado no saguão: a sócia da Aracati levara ao aeroporto um escrevente do cartório de Sorocaba, interior paulista, e a escritura, que já estava pronta, foi assinada ali mesmo.

"Ela (Rosane) ligou para o banco e mandou fazer a transferência do pagamento. Telefonei para a minha gerente e, assim que recebi a confirmação de que o dinheiro tinha caído em minha conta, assinei a escritura", conta Gauer. Indagado se não estranhou a maneira atípica como se deu a transação, o economista respondeu: "Eu achei estranho, mas estava precisando vender o apartamento."

Fechado o negócio, o próprio José Adriano, que aparecera no noticiário recente como dono de uma empresa que intermediava crédito consignado no Senado, passou a morar no apartamento. À época, José Adriano trabalhava em São Paulo. Depois que ele se mudou para Brasília, o apartamento ficou por conta do irmão, Gabriel. Um apartamento no prédio vale, hoje, cerca de R$ 300 mil.

ZELADOR

A história da compra do outro apartamento, o de número 32, é semelhante. Deu-se dez meses depois, em dezembro de 2006. A venda foi feita pelo empresário Sidney Wajsbrot, 43 anos, dono de uma fábrica de plásticos em Guarulhos, e pela mulher dele, a psicóloga Liza Heilman.
Ao Estado, Wajsbrot contou que, antes mesmo de pôr o apartamento publicamente à venda, foi procurado pelo zelador do prédio. "Ele me disse que o senador Sarney estava procurando um apartamento, que ele já tinha dois apartamentos no prédio e queria um terceiro, para um assessor dele", afirmou o empresário.

A partir do contato do zelador, o próprio Rogério Frota apareceu para tratar do negócio. Primeiro, fez uma visita para conhecer o apartamento.
Na hora de fechar a compra, a exemplo do que ocorrera na aquisição do apartamento 22, foi a irmã de Rogério Frota, Rosane, quem viajou de Brasília para São Paulo a fim de resolver. Novamente, estava acompanhada de um funcionário do cartório de notas de Sorocaba. "Ela veio com o rapaz do cartório, trouxe um cheque nominal, da empresa, e assinamos a escritura", diz Wajsbrot. "Legalmente, o nome dele (Sarney) não aparece."

O Estado falou nas últimas semanas com moradores e funcionários do condomínio Solar de Vila América. Eles acham que a família Sarney é proprietária de três apartamentos no prédio: o 82, desde 1979 em nome de Fernando Sarney, e os dois comprados e registrados em 2006 pela empreiteira de Rogério Frota.

NO PORTA-MALAS

Em 19 de julho do ano passado, agentes da Polícia Federal chegaram a montar vigilância na porta do prédio, em meio a investigações de empresas da família Sarney. Eles souberam que um funcionário dos Sarney saíra de Brasília rumo a São Paulo com uma mala e receberam ordem de interceptá-la.

Ao perceber a presença de agentes federais na frente do prédio, o zelador passou a informar Fernando Sarney. Depois, ajudou o portador da mala a deixar o edifício, escondido no porta-malas de um carro dos Sarney. Mês passado, o zelador acabou demitido.
Não é a única polêmica a envolver os Sarney no prédio. Moradores ouvidos pelo Estado contam que o apartamento número 22 é comumente utilizado para receber "gente de Brasília" e, nessas ocasiões, costumam ocorrer festas.

Entre os funcionários do prédio, é conhecido o esforço para evitar que os apartamentos sejam relacionados aos Sarney e ao próprio Rogério Frota. Até dias atrás, a conta de TV a cabo de um dos apartamentos estava em nome do ex-zelador.

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