terça-feira, 18 de agosto de 2009

JOSÉ SARNEY: QUEM É O NAZISTA?





José Sarney classificou o jornal "O Estado de S. Paulo" de nazista, pelo fato de ele publicar matérias que revelam suas ações no Senado e em outras plagas. Quero trazer à tona uma definição, bastante resumida, de nazismo. O nazismo ou nacional-socialismo foi o regime político instaurado em 1933 na Alemanha por Adolf Hitler, que radicalizou o fascismo italiano de Benito Mussolini, no qual se inspirou.



Além das características fascistas (totalitarismo, nacionalismo, militarismo, imperialismo, culto da personalidade e repressão violenta), o nazismo defendia também o anti-semitismo e o racismo (considerava a raça ariana, isto é, os alemães como superior a todas as outras).


Atualmente, o termo nazismo é utilizado para designar todos os ideais racistas e nacionalistas violentos. O “Estadão” não é nazista – ao contrário, é o maior defensor da liberdade de expressão, num viés liberal, na história do jornalismo brasileiro. Equivocou-se ao apoiar o golpe de 1964, mas, logo em seguida, posicionou-se contra ele e foi censurado. Opôs-se a Getúlio Vargas e sofreu consequências duríssimas. Participou dos movimentos que liquidaram a monarquia e instauraram a República e a libertação dos escravos – o abolicionismo. Talvez seja o veículo brasileiro de mais peso histórico.


Sarney ingressou, em 1965, na Arena (Aliança Renovadora Nacional) e foi fiel cúmplice de toda a ditadura brasileira, que se findou em 1985, parcialmente, quando tornou-se, pelos ventos do acaso, presidente da República, com a morte de Tancredo Neves, ambos eleitos indiretamente; ambos devedores do processo popular pela redemocratização, do qual não foram atores principais, mas secundários.


Agência Senado Sarney discursou nesta segunda-feira no Senado A ditadura de 1964 compartilhava traços com o nacional-socialismo de Hitler. Foi totalitária. Leia-se Norberto Bobbio: “ O regime nacional-socialista alemão (1933-1945) teve como característica um rápido processo de supressão e coordenação de todas as forças e instituições políticas, sociais e culturais”.


Sarney apoiou o AI-5, de 1968, apoiou o pacote de abril de 1977, atos que atentaram contra democracia e fecharam o País. Calou-se diante das torturas. Governou o Maranhão de 1966 a 1971, como biônico. Cumpriu depois dois mandatos de senador como biônico também. Ele sim, então, foi um pouco nazista. De mero advogado transformou-se, segundo a mídia, numa das maiores fortunas do País. Como presidente – entre aspas – promulgou três planos econômicos fracassados: o Cruzado, o Bresser e o Verão, de Maílson da Nóbrega – Bresser e Verão que até hoje congestionam o Judiciário brasileiro, por terem ferido direitos elementares de titulares de caderneta de poupança etc.


Sarney causa – há mais de meio século – prejuízos à democracia e ao País. O Maranhão é atrasadíssimo. Quem paga o preço desse atraso é o maranhense comum. Sua presidência foi medíocre. Ele não chegou perto de um Adolfo Suarez (Espanha). Agora, acuado por denúncias verossímeis, ataca a liberdade de expressão através de "O Estado de S. Paulo", justamente num momento no qual Hugo Chávez censura a imprensa venezuelana, ao demonstrar a incipiência dos direitos democráticos em toda a América Latina.


Sarney afronta – e ele é proprietário de rede de comunicação – a liberdade de comunicação, tachando "O Estado de S. Paulo" – é preciso repetir – de nazista. José Afonso da Silva explica o que é liberdade de comunicação: “Ela compreende – nos termos da Constituição – as formas de criação, expressão e manifestação do pensamento e da informação". Remarca Afonso da Silva: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Sarney faz ainda ataques econômicos ao jornal, ao chamá-lo de falido, exatamente no período de maior crise da imprensa mundial, afetada pela internet e pela depressão econômica. O fato revela que ele vê a mídia como ovelha de seus interesses “lobísticos” e não respeita sua independência e suas dificuldades empresariais, porque Sarney nunca as têm.


Além da proibição de publicar determinadas matérias, imposta ao jornal por um Juiz de Direito (não quero entrar nessa discussão), Sarney instituiu a censura ideológica, desqualificando o “Estadão”. Sarney é membro do maior partido político do País e presidente do Senado brasileiro. Sua atitude pode tornar-se “paradigma” para outros políticos pouco afeitos aos princípios constitucionais da legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência, que regem toda a administração pública.


O discurso de Sarney afronta não só o jornal em tela, mas, toda a democracia e os veículos brasileiros. Além disso, racismo (nazismo) é crime inafiançável. Para defender-se do indefensável, Sarney mobiliza os aparatos mais antidemocráticos, mais nazistas, que, ainda, põem em risco o regime democrático no Brasil.


Régis Bonvicino

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